Ícone do Boi Verde

Gazeta Mercantil Balanço Tocantins Set 2001

Tradicionais fazendeiros viram executivos da pecuária. Caso de Epaminondas de Andrade, 70 anos, pioneiro no melhoramento genético do rabanho nelore e correção de solos para pastagens. Ele acaba de vender a célebre fazenda Vale do Boi, mas a marca fica com a família.

O que muda no negócio do boi

Entra a tecnologia de ponta e atrás dela chegam as modernas técnicas de administração

A adoção de tecnologias modernas – como a seleção genética e a reprodução assistida – está mudando a cara da pecuária tocantinense. Nessa metamorfose, o negócio da criação de gado, como um todo, também se atualiza via adoção de técnicas administrativas voltadas para a qualidade total. Os fazendeiros de antes são chamados agora de executivos pecuaristas, responsáveis, em parte, pelo atual estouro da “boiada verde”.

De fato, o rebanho estadual de bois criados a pasto, o chamado “boi verde”, está aumentando à razão de 600 mil cabeças por ano. O crescimento em 2001 é equivalente a 10.7%, se comparado com o mesmo período do ano passado. O outro fator responsável pela expansão, porém, é a perspectiva de ganhar o mercado externo.

Ainda que a recente conquista do certificado da Organização Internacional de Epizootias (OIE), de área livre de febre aftosa com vacinação, não tenha aberto automaticamente as portas para o mundo, serviu de motivação para a melhoria na qualidade do rebanho. E representou um grande alento para a indústria frigorífica.

Um caso ilustrativo das novas tendências é o do criador Epaminondas de Andrade, de 70 anos, um genuíno executivo da pecuária. Há 18 anos e meio na fazenda Vale do Boi, em Carmolândia, na região de Araguaína, ele é o pioneiro na adoção de práticas de melhoramento genético, inseminação artificial, correção de solos para pastagens e controle informatizado de todos os procedimentos das propriedades. “Com mais cindo a sete anos, Tocantins vai assumir a primeira posição na pecuária de corte do País”, diz.

Andrade cita um conjunto de fatores – condições de clima, solos, expansão da fronteira agrícola e preço da terra – como elementos indutores da melhoria de qualidade na pecuária de corte. Ele lembra que os Estados do Sudeste – ao contrário de Tocantins – estão em fase de redução do plantel, e as terras migram para a pecuária leiteira e agricultura. “Um quilo de soja tem produção mais barata do que um quilo de carne, e ambos são commodities, com a diferença que a soja é mais fácil de transportar a longas distâncias.”

Segundo ele, as terras caras do Tocantins estão cotadas a R$ 1,5 mil o hectare, justamente na região de pecuária de corte mais desenvolvida. “Soma-se a esse preço compensador o menor custo de aprendizagem do pecuarista tocantinense, que hoje tem acesso a quase toda a base de tecnologia do campo, tanto em produtos como em procedimentos.”

A última prova de ganho de peso a pasto, realizada na Vale do Boi, confirma que as expectativas de Andrade não são infundadas. Na ocasião, pecuaristas de diversas localidades do Estado deixaram seus animais, de diferentes linhagens, alimentando-se em condições idênticas e o ganho médio diário de peso nos bois foi de 850g. Ele esclarece, contudo, que o desempenho não é uma decorrência pura e simples da genética apurada, mas sobretudo das boas condições ambientais e da qualidade do pasto. “Conseguimos chegar a resultados idênticos ao dos criadores de bois em confinamento, com até 1 kg de ganho diário em alguns animais, e sabemos que com mais tecnologia e nutrição adequada isto pode melhorar mais ainda”, anima-se Andrade.