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Tropa Mangalarga da Fazenda Vale do Boi.

Precisão de Relógio

Gazeta Mercantil Balanço Tocantins Jun 1998

Na fazenda Vale do Boi, visitada por missões de países como França, China e Taiwan, tudo funciona com a precisão de um relógio. São 20 empregados, incluindo os dois filhos de Epaminondas de Andrade, – todos com contrato de trabalho e carteira profissional assinada. A maioria mora com as famílias na própria fazenda em casas servidas por água encanada e energia elétrica. Todos conhecem e executam bem suas tarefas. “Nunca precisei falar alto com ninguém”, orgulha-se Andrade. Tudo é feito para garantir a tranquilidade do gado e seu bom desenvolvimento. Nos mínimos detalhes. Exemplo: Andrade e seu pessoal só se aproximam das boiadas de chapéu. Porque os bichos estão acostumados com chapéu e certamente estranham um cavaleiro de cabeça descoberta ou de boné.

Outro detalhe: os corredores que dão acesso aos piquetes de pasto são largos e deixam amplo espaço de cada lado do leito da estrada até as cercas. A primeira impressão que se tem é que a fazenda poderia reduzir os corredores e aumentar piquetes. Engano, Andrade explica que os corredores são largos porque os veículos da fazenda e partidas de gado, remanejadas periodicamente de um piquete para outro, acabam se encontrando com frequência . Quando isso acontece, o carro encosta e espera os animais passarem. Se o corredor se restringisse ao leito da estrada, o gado ficaria inquieto, forçando a passagem no funil entre o veículo e a cerca.

No trabalho de manejo do gado, que muitas vezes envolve grandes distâncias, os peões utilizam, em sistema de rodízio, 70 montarias, de uma tropa de 140 animais. É um espetáculo à parte ver o disciplinado desfile dos cavalos e éguas da raça Mangalarga (variedade paulista), todos na mesma cor alazã; e burros e mulas oriundos do cruzamento de éguas Mangalarga com jumento Pêga.

Burros e mulas – animais híbridos que não se reproduzem – têm duas vantagens, segundo Andrade, em relação ao cavalo e à égua: sã mais resistentes no trabalho e vivem mais. Em contrapartida, são menos dóceis, como os próprios nomes sugerem. Têm, por exemplo, mania de empacar. Ou seja, estacam sem mais nem menos, por determinado tempo, e não arredam o pé de jeito nenhum. A expressão “teimoso como uma mula” tem lá sua razão de ser.

O grande trunfo de toda a tropa está no fato de ser composta de animais eficientes e de andamento confortável. O jumento Pêga anda marchando, com tríplice apoio de patas, e transmite essa característica de caminhar de modo macio aos filhos, burros ou mulas, utilizados na fazenda. O detalhe é importante por não cansar o peão que lida com o gado, mesmo que cavalgue durante muitas horas. E o Mangalarga anda em marcha trotada, afastando mais as paras do chão. Isso facilita seu deslocamento em terreno irregular, em meio ao capim.