Trinta anos atrás, quando Epaminondas Andrade chegou ao Tocantins, sentia que a pecuária do estado era mais pujante. Na última década, no entanto, o produtor rural percebeu essa euforia esmorecer constantemente. Cultivos agrícolas como a cana de açúcar e especialmente a soja tomaram as áreas anteriormente dedicadas à criação bovina e os preços estagnados do mercado da carne desencorajaram e descapitalizaram muitos pecuaristas da região.
“É claro que isso não é um problema só no Tocantins”, salienta. “Mas o fato é que estamos produzindo 4 ou 5 arrobas por hectare/ano e para ter lucro seria preciso produzir 15”. Para Andrade, que trabalha com a venda de genética bovina, a solução está na disseminação de novas tecnologias de produção e de boas práticas de manejo e gestão, especialmente para pastagens. Isso porque o produtor no Norte acostumou-se com a fertilidade natural do solo da Zona da Mata. “Não dá mais para agir como garimpeiro e só tirar do solo”, critica. “Temos que trabalhar com a adubação e correção. Eu trato a pastagem como uma lavoura de capim, que eu colho com a boca do boi”.
Para o vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Tocantins (FAET), Paulo Carneiro, produtores como Epaminondas Andrade ainda são exceções. “A pecuária no estado tem muito que se desenvolver. Nosso produtor não é empresário rural, ainda é muito amador. Ele precisa tratar a fazenda como um comércio e investir para ter maior ganho de carcaça e produtividade”. Demanda existe, principalmente no mercado interno. Mesmo com um rebanho de 8 milhões de cabeças, Tocantins depende da produção de estados como Mato Grosso e Goiás para atender quase 50% da demanda dos 13 frigoríficos em atividade no Estado.
EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA
As mudanças trazidas pelo investimento em tecnologias, no entanto, já podem ser percebidas pelos que acompanham passo a passo o avanço da pecuária no estado ao longo dos anos. Em atividade há quase três décadas em Tocantins, o leiloeiro rural Eduardo Gomes relata que a evolução é visível. “Os leilões são uma vitrine do estágio do rebanho e posso dizer que houve uma inversão. Na época havia uma minoria de animais bons nos leilões, mas hoje é exatamente o contrário”. Para ele, ainda que deficiente em vários pontos, Tocantins tornou-se referência para criadores de gado de corte de diversos estados devido à prática de uma pecuária a pasto, com gado adaptado e saudável. Desde 1997 a região é livre da febre aftosa e mantém 99% do rebanho vacinado.
Nos dias 6 e 7 de maio, a cidade de Palmas, no Tocantins, vai receber uma das etapas do Circuito Feicorte NFT 2013, uma iniciativa do Agrocentro, que realiza todos os anos a Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne em São Paulo, em parceria com a NFT Alliance (união estratégica entre MSD, Nutron e Vale). A feira trará uma rodada de negócios com mais de 30 empresas, além de palestrantes e expositores de destaque na pecuária brasileira para promover a difusão de novas tecnologias de manejo. Para Gomes, que vai realizar um leilão virtual durante o circuito, receber um evento como este pela primeira vez ao estado é um divisor de águas. “Eu vejo a chegada da Feicorte como o mais importante evento já ocorrido no estado e na região Norte. É um privilégio para o produtor e um salto gigantesco em termos de conhecimento, informação, sistemas de produção, de adequação ao mercado e de perspectivas do futuro”.
Paulo Carneiro, da FAET, enxerga o evento como uma oportunidade de prospecção de parcerias para projetos. “Hoje não temos a infraestrutura adequada no estado para a pecuária, mas se abrirmos os olhos e ampliarmos os horizontes dos produtores rurais, poderemos ter uma grande virada de um ano para o outro”, estima. Epaminondas Andrade defende novas propostas e inovações que o circuito possa trazer e sabe que é questão de tempo até que elas se consolidem. “Quem não mudar, não vai continuar na pecuária”, finaliza.