Revista DBO nº 371 – Setembro/2011
Especial – Genética e Reprodução
Nutrição
Na formulação do programa nutricional dos reprodutores, recomenda-se evitar o aporte de energia em excesso, por ser prejudicial ao seu desempenho.
A nutrição é um dos fatores que mais influi no desempenho reprodutivo, não apenas das fêmeas, mas também dos touros – e estes nem sempre recebem a atenção devida. Segundo o veterinário Fernando Galvani, da VetPlus Assessoria em Genética e Reprodução, com sede em Marabá, PA, os machos candidatos a reprodutores devem ser alimentados adequadamente desde a desmama, para que cheguem à puberdade mais cedo e produzam mais bezerros.
Restrições severas na fase de recria podem causar atrofia testicular. Em reprodutores jovens (18 meses), a subnutrição reduz a produção espermática em até 15%. Comida em excesso também prejudica o desempenho do touro a pasto. “Não se mede genética por meio de gordura ou peso, e sim com DEPs. O touro deve ser alimentado na dose certa, apenas para expressar o seu potencial”, diz Galvani.
Fazendas com bom manejo alimentar de reprodutores os suplementam na seca pósdesmama e realizam o seu preparo pré-estação de monta. Algumas preferem tratá-los desde a fase de lactação, por meio de creep feeding, até à época de venda. “Não existe regra. Cada fazenda deve desenvolver o seu programa nutricional, conforme o sistema de produção”, diz o consultor da VetPlus. O peso considerado como referência para tourinhos da raça Nelore é 600kg aos 20-24 meses. “Se o vendedor diz criar animais a pasto, adaptados para cobertura a campo, e os oferece com peso muito acima desse patamar, é bom desconfiar, porque algo está errado”, adverte Galvani.
ESTRATÉGIAS – Na Fazenda Vale do Boi, do selecionador Epaminondas de Andrade, em Carmolândia, TO, os bezerros candidatos a tourinhos são suplementados com proteinado de baixo consumo durante a seca, que se segue à desmama, na proporção de 0,1% do peso vivo, ou cerca de 200g/cab/dia. Quando chegam as chuvas, em outubro/novembro, eles são transferidos para pastagens rotacionadas de braquiarão ou mombaça e recebem sal energético. “O período das águas é muito importante, pois temos o vento a nosso favor, ou seja, todas as condições são favoráveis ao desenvolvimento dos animais. É preciso tirar máximo proveito disso”, diz Ricardo José de Andrade, filho de “seu” Epaminondas e administrador da fazenda.
Nas águas, os novilhos deslancham, ganhando de 800g a 1 kg/cab/dia, conforme atestam as pesagens regulares. Quando chega a seca seguinte, já pré-estação de monta, eles começam a ser preparados para a venda, com o fornecimento de ração concentrada com 18% de proteína, no próprio piquete, durante 90 dias, em níveis moderados, de 500 g/cab/dia, para que cheguem aos 24 meses com o peso ideal. “Se a demanda por tourinhos está alta, elevamos a suplementação para 1 kg/cab/dia, de forma a melhorar rapidamente sua condição corporal e vendê-los aos 21-22 meses, logo após o término das avaliações do PMGZ – Programa de Melhoramento Genético da Raça Zebuína, conduzido pela ABCZ. Se o mercado não está bom, tiramos a ração. Se o estoque acaba, voltamos a suplementar. Para cada situação, recorremos à estratégia mais indicada”, diz Ricardo.
Já os animais que vão ser ofertados no shopping da fazenda, em junho, são submetidos a outro programa nutricional. Cerca de 90 dias antes do evento, os tourinhos passam a receber 1% do peso vivo em ração, ou cerca de 5 kg/cab/dia. Como permanecem no pasto, também recebem um pouco de forragem picada, para evitar que rapem o capim. O shopping é a principal vitrine da Vale do Boi. Nele são ofertados os 100-120 tourinhos mais bem avaliados a cada ano. A fazenda, de 1.800 ha, conta com um plantel de 1.000 matrizes PO e tem quatro touros, entre os 20 melhores raçadores Nelore, com destaque para Imperador VB da Vale, terceiro lugar no Índice de Qualificação Genética do Sumário Embrapa/ABCZ 2011.
FORÇA DO VISUAL – O objetivo do tratamento pré-venda, segundo informa Ricardo Andrade, é melhorar a aparência do tourinho e valorizar a sua genética. “O comprador escolhe muito pelo visual. Mesmo guiando-se pelas DEPs e outras medidas genéticas, se o touro está mais enxuto, ele não compra”, diz.
A superalimentação, contudo, é prática proibida na Vale do Boi. Ao chegar à fazenda do comprador, cerca de 90% dos tourinhos da marca são levados diretamente para o pasto, para cobrir a vacada, e se adaptam às condições rústicas de campo. “Monitoramos o seu desempenho pós-venda. Em 30 anos de seleção, tivemos de trocar somente quatro reprodutores”, afirma Ricardo.
Pela experiência do veterinário Galvani, ninguém compra touro de tipo atlético, só músculos. Em geral, escolhe-se o macho de estrutura corporal mais avantajada, porque se associa a ela a capacidade de transmitir peso ao bezerro. “Como não há treinamento para se comprar um bom reprodutor, o comprador é fisgado pelo olho. É preciso escolher aquele que melhor atende o sistema de produção da fazenda”.Uma prática arriscada, adverte, é investir na compra de um touro jovem tratado em baia com ração, pois ele não está acostumado às condições de campo. “Em consequência, sentirá muito o peso do serviço e poderá desmanchar, ou seja, perder condição corporal rapidamente”. Também não é bom um animal abaixo do padrão: “Um touro de dois anos, com peso de 450 kg, pode não cobrir direito as vacas”, alerta Galvani.
Ao pecuarista que não dispõe de olhar treinado, o veterinário recomenda que contrate um técnico para auxiliá-lo na compra. Outra recomendação é informar-se, junto ao vendedor, sobre o programa nutricional utilizado na preparação do animal. Se ele passou a seca perdendo peso, por exemplo, e depois foi alimentado no cocho com muita ração, por período relativamente prolongado, deve receber, ao chegar à fazenda, um tratamento diferenciado – cobertura de um número menor de fêmeas, suplementação de manutenção etc. Caso contrário, se for colocado para cobertura em pasto pobre, sem trato algum, poderá sofrer muito. “O ideal é monitorar a sua condição corporal ao longo da estação de monta (leia sobre cuidados como touro jovem no quadro ao lado)”, diz Galvani.
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Cuidados com o tourinho
Os touros recém-adquiridos, ou de primeiro serviço, devem receber tratamento especial, para que cheguem ao final da estação de monta em boa condição corporal. A seguir, alguns cuidados básicos, recomendados por técnicos:
• Colocar os tourinhos em companhia de novilhas, ou de um número menor de vacas, em comparação com os reprodutores adultos, pois eles têm alta libido e se cansam rapidamente, devido ao excesso de coberturas, muitas não conclusivas. Se o lote de fêmeas for grande, a taxa de prenhez poderá resultar baixa.
• Monitorar a sua condição corporal, com a leitura de escore corporal, ou pesagens, antes e depois da estação de monta, para detectar eventuais desgastes, que afetem a produção espermática. Caso haja perda de massa muscular, o animal deve ser suplementado.
• Não misturar touros jovens com adultos, pois estes são dominantes e podem agredi-los, restringir o seu acesso à água e aos alimentos e prejudicar o seu desempenho sexual, impedindo os de cobrir as vacas.
• Para evitar a perda de muito peso durante a estação de monta, o animal deve ser suplementado 30 dias antes de entrar em serviço e durante o período de cobertura. Após o término dos trabalhos, deve ser examinado, para verificação de eventuais problemas físicos.
Obesidade x desempenho
O fornecimento de dietas muito energéticas leva ao acúmulo de gordura no tecido escrotal, o que impossibilita a perda de calor nos testículos e provoca desequilíbrio na síntese de testosterona e na produção de sêmen. Pesquisas realizadas com dietas de baixo, médio e alto nível energético mostraram que os animais superalimentados apresentaram menor produção espermática e problemas nas articulações, que dificultam a monta.
Para produzir uma quantidade adequada de esperma, o touro demanda um aporte energético apenas 5%-10% acima dos níveis de manutenção, necessidade menor do que as de um animal em crescimento, por exemplo. Portanto, não convém exagerar na sua alimentação. O correto é mantê-lo com escore corporal 3 ou 4, numa escala de 1 a 5, condição adequada ao seu bom desempenho.